A PALAVRA NUNCA.

Existem certas experiências que a literatura lhe proporciona. Como a de ler uma estória onde o escritor descreve a caminhada de uma patrulha de soldados em plena guerra, e descreve a chuva que começa, o cheiro do mato molhado e bosta de vaca, e você, deitado em sua cama, dentro do seu quarto com as janelas fechadas em plena duas horas da madrugada começa a sentir o cheiro de mato molhado. É um ponto em que você está tão compenetrado na estória, em que o escritor consegue lhe envolver tão bem e o segura na narrativa, que ela começa a tornar-se algo palpável dentro de você. Você está dentro da narrativa, ela faz parte de você agora. As palavras e seu poder. E foi algo assim que aconteceu comigo enquanto lia uma das estórias do livro “A Palavra Nunca” de Eric Nepomuceno.
Livro de contos escrito entre os anos 70 e começo dos anos 80, os contos foram escritos antes de meu nascimento, e me caiu nas mãos a uns 6 anos atrás por via de um professor. Reencontrei o livro no final de dezembro de 2010 em um sebo, enquanto procurava algum um livro para presentear. E assim que o vi, logo tratei de colocar em meu bolso.
Em “A Palavra Nunca” Eric Nepomuceno fala em seus contos sobre a infância, sobre o tempo que passa, sobre as mudanças que a vida proporciona, sobre tempo que não pode mais voltar. Fala belamente da saudade da infância, de amores jogados fora, de pessoas abandonas e nunca esquecidas. Fala da memória e em como ela pode se tornar uma cicatriz pronta a ser aberta a qualquer momento pelas gavetas da mesma memória.
Dividindo o livro em 5 partes; “Histórias da Primavera”, “Histórias de Inverno”, “Histórias sem tempo”, “Histórias do Outono” e “Histórias de um Tempo Qualquer”, Nepomuceno escreve sobre a solidão, medo, descrença e o horror que é a guerra, costurando maravilhosamente contos que se tornam quase reais quando lidos. As sensações são emanadas a ponto que o leitor possa sentir um cheiro, um gosto, uma tristeza, a ponta da melancolia de um tempo em que todos vivemos, e que já se foi. E que nunca poderá ser recobrado.
Comentários
Gira esta troca...
Vai para a lista de espera...lol
Eu nunca tinha conhecido ninguém que tivesse lido também esse livro. Eu o li nos meus 16 anos enquanto matava as aulas de matemática na escola.
A cena onde os soldados estupram a moça é realmente uma das mais marcantes e angustiantes dessa obra.