NADAS.
Tecido Penumbroso
Como posso sofrer porque as coisas pararam? Elas andavam tão
estouvadas! Por que não deixá-las dormir agora um pouco? Tudo se aquietou, é
noite, o mundo vive por dentro, cegando-se ao sol do sonho. Preciso um pouco
desse conteúdo inóspito, ermo como um quase-nada. Não, não é a morte, é uma espécie
de lacuna essencial, sem a aparência eterna do mármore ou, por outro lado, sem
as inscrições carcomidas. Pode-se respirar também na contravida. Depois então
agente volta para o velho ritmo; aí já não nos reconhecemos ao espelho explícito,
tamanha a qualidade desse tecido penumbroso que provamos.
João Gilberto Noll
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