SEM DESTINO.
-De
verdade, eu só queria saber como ela tá.
-E
eu é que vou saber?!
Os
dois escorados no muro baixo.
-Eu
só queria saber como ela tá. E se pensa em mim.
-Pensa,
com certeza, mas é bem possível que não como você pensa nela.
-De
lascá isso.
-De
repente ela já pode ter te esquecido.
-É
foda.
-De
repente ela pode estar te esquecendo, e tu aí, nada de esquecer
dela.
Perto
de meia-noite, os dois fumando. No céu dava pra ver umas estrelas.
-Ela
disse que queria que eu saísse desse lance. Mas o que mais é que eu
vou fazê?!
-Mulher
é foda, nunca tá satisfeita com o que tem, pode repará.
-Se
eu não ganhá uma grana aqui, não sei mais o que faço.
-Hoje
a noite vai até ser boa, tu vê as estrela?! Não vai chovê. Ruim é
quando chove.
-Eu
largo isso por ela, mas não sei mais onde ir.
-Porque
tu num escreve um livro?
-Um
livro?!
-É.
-E
sobre o quê?!
-Sei
lá, sobre qualquer coisa. Sobre você, sobre issaquí. Pode até
vender, tem gente que se dá bem, e tu pode ganhar uma grana.
-E
eu lá sei escrever porra nenhuma!
-Saca
aquela estória do cara que morreu pra virá escritô?
-Nunca
ouvi falar.
-O
cara era escritô, mas ninguém publicava o que ele escrevia, daí
ele forjou morte. Tipo, comprô atestado de morto e tudo, depois de
morto começou a mandar os escritos por aí, e então porque tava
morto, começaram a publicar os livro dele, e vendeu pra caralho.
-E
aí, o que aconteceu depois?
-A
mãe dele e a irmã ficaram recebendo o dinheiro. Ele ainda publicou
5 livros póstumos.
-Porra,
o cara teve que morrer pra ganhar dinheiro.
-É.
-E
tu tá dizeno que eu devo fazer o mesmo é, morrer pra ganhá
dinheiro?!
-Bom,
só tô te contano uma história que você não sabe.
-Essa
é a história mais idiota que eu já ouvi na minha vida.
-Como
falei, só tô te contano uma história que tu não conhecia.
Acenderam
mais um cigarro.
-Tô
pensando em ligar pra ela.
-Tu
tem dinheiro aí?
-Não,
quanto você quer?
-Queria
dar uns tiro antes de começar.
-Tá
foda.
-É.
-Eu
vou ali ligar pra ela.
O
outro ficou e terminou o cigarro. Depois de um tempo ele volta com a
cabeça baixa.
-E
aí?
-Não
tava em casa.
-Bom,
então vamo nessa, aquele coroa vai passar lá na boate, ele sempre
solta uma grana legal. Queria cheirar antes pra dar uma força. Saca,
aquele coroa é meio nojento, pelancudo pra carai.
-Pode
crer que eu sei.
-Mas
depois que ele liberar a grana eu compro. Te dou um pouco.
-Não,
hoje não tô afim.
-Ia
melhorar.
-Pode
ser…
Afastaram-se
do muro e começaram a andar na rua vazia e escura do centro da
cidade.
14/03/2011
18:50
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