DESCONSTRUINDO UM MUNDO PERFEITO.

Dizem que há muito tempo atrás, os “contos de fadas” surgiram como estórias para serem contadas para adultos. Estórias que adultos contavam para adultos no meio da noite perto de lareiras. Em seus enredos falavam de assassinato, incesto, sexo, culpa, luxúria. Não diferente então do que existe nas sensações do dia a dia, não diferente nas estórias contadas que existem no grande livro da bíblia por exemplo, um dos livros “iniciais” então da história humana. Com o tempo, e uma ajuda de alguns escritores (os irmãos Grim, por exemplo), certos contos foram passando para serem contados para crianças, com enredos mais sutis, com violência sendo maquiada, mas ainda mostrando sentimentos de inveja, luxúria, medo, cobiça. E então as estórias foram passando de adultos para crianças, e não mais de adultos para adultos. As estórias que falavam de um mundo não tão perfeito, passaram a ter princesas perfeitamente lindas, com sorrisos sempre belos mesmo depois de anos de sono e sentimentos sempre bons dentro do coração. Assim como os reis e príncipes fortes e corajosos. Um mundo feito com perfeição, para ser lido e esperado que nosso mundo se torne assim perfeito, com pessoas perfeitas, onde o bem sempre vence o mal.

Talvez fosse essa perfeição toda que levou o artista plástico Bruno Vilela a querer trabalhar os contos de uma maneira diferente. Desconstruindo personagens como Alice do livro de Lewis Carol, ou outros como Branca de Neve, o artista recria as personagens de sua forma e as coloca em situações fora do comum, sejam caídas sujas de sangue em lama, nas ruas, ou em salas que se pressupõem serem de projeção de filmes. As personagens são encontradas sempre em forma misteriosa, vinda de algum canto, indo para algum canto, sujas de sangue, e nunca com tais motivos revelados. Estariam então mais próximas do nosso mundo real?
O mundo perfeito, ou muitas vezes estranho dos contos de fadas que pressupõem perfeição, é de interesse de muitos escritores, roteiristas, e artistas plásticos. Bill Willingham, por exemplo, recriou o mundo das fábulas em suas hqs num mundo real e mundano, onde esses personagens fictícios caminham e vivem uma vida (quase) tão comum como qualquer um de nós. Este mundo fictício, quase perfeito, retirado de mundos oníricos é sempre tema para alguma discursão.
Boa disrcursão criou então Bruno Vilela em sua exposição bibbdi bobbdi boo, que revi nesta semana passada no Centro Cultural BNB. Pintor de formação, Bruno compõem suas fotografias como se fossem pinturas (o que não deixam de ser). Sempre com cores fortes mostrando as personagens dos contos de fadas em situações que como já disse, misteriosas. O que teria acontecido com a chapeuzinho para que estivesse andando com as mãos sujas de sangue? Teria realmente matado seu adversário lobo com as próprias mãos passando o chato dessa para melhor e continuado sua caminhada tranquila para a casa da vovó? O que teria acontecido com a linda princesa deitada na lama em um dia tão belo, suja de sangue? Teria se embebedado, caído, sido violentada por algum “príncipe” impaciente? E a princesa que dormia em cima dos 10 colchões, teria sido envenenada em vez de exposta à ervilha e agora definha em um sono supremo tranqüilo no meio da floresta?



Interessado em contos infantis como sou, rever as tão boas fotos pinturas de Bruno Vilela tanto me trouxe beleza quanto desconforto e questionamentos sobre se os mundos criados por Andersen ou os Irmãos Grim, teria sido realmente criado por outros antes deles e mais próximos da imperfeição cotidiana. E é Claro, claro que sim.

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