ILUMINURAS.
III
Nos
bosques tem um pássaro, você pára e cora com seu coro.
Tem
um relógio que não toca nunca.
Tem
uma brecha no gelo com um ninho de bichos brancos.
Tem
uma catedral que sobe e um lago que desce.
Tem
uma pequena carruagem abandonada na moita, ou que passa correndo,
decorada.
Tem
uma trupe em trajes de comédia, espiada pela trilha da floresta.
E
então, quando você tem fome e sede, tem sempre alguém que te manda
passear.
IV
Eu
sou o santo, rezando no terraço, — como os animais pacíficos
pastando junto ao mar da Palestina.
Eu
sou o sábio na poltrona sombria. Os galhos e a chuva se jogam contra
a vidraça da biblioteca.
Eu
sou o andarilho da grande estrada entre os bosque anões; o rumor das
represas cobre meus passos. Me demoro vendo a triste fuligem dourada
do pôr-do-sol.
Eu
bem podia ser a criança abandonada no cais de partida pro alto mar,
o caipira rodando as alamedas, sua cabeça roçando o céu.
Os
caminhos são ásperos. Montesinhos se enchem de giestas. O ar está
parado. Que longe os pássaros e as fontes! Isso só pode ser o fim
do mundo, avançando.
CIDADE
Sou
um efêmero e não muito descontente cidadão de uma metrópole que
julgam moderna porque todo estilo conhecido foi excluído das
mobílias e do exterior das casas bem como do plano da cidade. Aqui
você não nota rastros de nenhum monumento de superstição. A moral
e a língua estão reduzidas às expressões mais simples, enfim!
Estes milhões de pessoas que nem têm necessidade de se conhecer
levam a educação, o trabalho e a velhice de um modo tão igual que
sua expectativa de vida é muitas vezes mais curta do que uma
estatística maluca encontrou para os povos do continente. Assim
como, de minha janela, vejo novos espectros rolando pela espessa e
eterna fumaça de carvão, — nossa sombra dos bosques, nossa noite
de verão! — as novas Erínias, na porta da cabana que é minha
pátria e meu coração, já que tudo aqui parece isto, — Morte sem
lágrimas, nossa filha ativa e serva, um Amor desesperado, e um Crime
bonito uivando na lama da rua.
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Iluminuras - Arthur Rimbaud
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