LEIA ABAIXO UM DOS POEMAS.
Recebei
as nossas homenagens
Único homem acordado nesta noite, o apartamento
apertado parece imenso; vagueio desacordado de tudo
e sobretudo em desacordo comigo, único homem
acordado no mundo; o teatro estreito assim vazio
parece largo, perambulo absoluto, príncipe estragado;
não dormir é meu palácio; a Dinamarca, diminuta,
parece dilatar-se enquanto palmilho o ar do quarto.
Vem o dia, e o fantasma de meu pai não me aparece.
Da vista e do visto
Mais uma vez é maio; não o levaste contigo;
horas se escrevem hoje com o lápis de sempre,
ultramar e um tanto adolescente; não o levaste,
maio, mês de meu aniversário, quando a melancolia
é menos nítida que a linha dos morros e dos edifícios;
vento sol amendoeiras, é como te digo, não levaste
maio e mesmo os meus olhos estão aqui, comigo; algo,
porém, sei que se foi contigo; que coisa era, não sei,
e, ainda que pequena, faz falta, era minha; coincidência
ou não, procuro e não encontro a minha antiga alegria.
Leia abaixo um dos poemas
Ana diz as palavras faltam quando
mais se precisa delas são apenas a sombrinha
do equilibrista, digo a Ana tantas vezes
sobrevivemos só por saber os nomes
não caímos não morremos, só quem nunca
esteve bambo no trapézio despreza o equilíbrio
zomba do vento, são as palavras que botam
a gente no alto, onde é melhor viver
de onde é melhor cair.
Romântica
Quantos de nós quereriam viver não a vida
mas o filme, quando a vida não é vida
e não se morre na morte e o que finda
não apodrece porque logo é outro set;
vida em que se passa a salvo de um dia
a outro sem que se viva a semana entre
eles; viver sob as ordens de um destino
por escrito que sabemos previamente
e o vivemos sem vivê-lo. A força dos fortes
que voam; bandos que matam sem matar;
fracos que não desistem; bravos que no fim
se vingam. Tantos de nós desejaríamos
ter vivido e ter amado amores desgraçados,
cuja beleza, tão bela, era mais bela que
a dor e a dor era mais a beleza que o doer.
Queríamos que fosse não a vida, mas
a cena e a canção crescendo no momento
certo da alegria, no instante do beijo,
no clímax. Close: quando errássemos,
bem na hora, a voz de um Deus dizendo
corta!
________
4 poemas de Eucanaã Ferraz, de seu livro "Sentimental".
Único homem acordado nesta noite, o apartamento
apertado parece imenso; vagueio desacordado de tudo
e sobretudo em desacordo comigo, único homem
acordado no mundo; o teatro estreito assim vazio
parece largo, perambulo absoluto, príncipe estragado;
não dormir é meu palácio; a Dinamarca, diminuta,
parece dilatar-se enquanto palmilho o ar do quarto.
Vem o dia, e o fantasma de meu pai não me aparece.
Da vista e do visto
Mais uma vez é maio; não o levaste contigo;
horas se escrevem hoje com o lápis de sempre,
ultramar e um tanto adolescente; não o levaste,
maio, mês de meu aniversário, quando a melancolia
é menos nítida que a linha dos morros e dos edifícios;
vento sol amendoeiras, é como te digo, não levaste
maio e mesmo os meus olhos estão aqui, comigo; algo,
porém, sei que se foi contigo; que coisa era, não sei,
e, ainda que pequena, faz falta, era minha; coincidência
ou não, procuro e não encontro a minha antiga alegria.
Leia abaixo um dos poemas
Ana diz as palavras faltam quando
mais se precisa delas são apenas a sombrinha
do equilibrista, digo a Ana tantas vezes
sobrevivemos só por saber os nomes
não caímos não morremos, só quem nunca
esteve bambo no trapézio despreza o equilíbrio
zomba do vento, são as palavras que botam
a gente no alto, onde é melhor viver
de onde é melhor cair.
Romântica
Quantos de nós quereriam viver não a vida
mas o filme, quando a vida não é vida
e não se morre na morte e o que finda
não apodrece porque logo é outro set;
vida em que se passa a salvo de um dia
a outro sem que se viva a semana entre
eles; viver sob as ordens de um destino
por escrito que sabemos previamente
e o vivemos sem vivê-lo. A força dos fortes
que voam; bandos que matam sem matar;
fracos que não desistem; bravos que no fim
se vingam. Tantos de nós desejaríamos
ter vivido e ter amado amores desgraçados,
cuja beleza, tão bela, era mais bela que
a dor e a dor era mais a beleza que o doer.
Queríamos que fosse não a vida, mas
a cena e a canção crescendo no momento
certo da alegria, no instante do beijo,
no clímax. Close: quando errássemos,
bem na hora, a voz de um Deus dizendo
corta!
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4 poemas de Eucanaã Ferraz, de seu livro "Sentimental".
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