O PERIGO.
Acordo
e já é dia, o sol entra pelas cortinas. Não sei que horas são.
Então viro pra mesinha ao lado da cama e vejo no relógio digital em
cores vermelhas que já passam das nove. Olho pro quarto espaçoso.
Me sinto cansado. Ontem bebi muito. Sei que ela me trouxe pra cá, e
já foi embora. Provavelmente pro trabalho. Não deixou
recado no travesseiro ao lado, como nos filmes. Levanto da cama.
Caminho um pouco pelo quarto, vou até a janela e vejo a rua. Um
garoto passa de bicicleta. Vou ao banheiro. Espaçoso. Essa casa é
boa, ela deve ter um bom emprego. Lavo o rosto. Saio. Caminho pelo
corredor e encontro a cozinha, abro a geladeira. Ela tem um bom
emprego. O que a fez me trazer aqui ontem? O que queria com um cara
como eu? E ela foi embora e me deixou em sua casa. Caminho até a
sala e sento no sofá, me esparramando como se isso tudo fosse meu
por alguns minutos. Mas nada disso poderia ser meu, nada disso foi
feito para um cara como eu. Sei que poderia me acostumar com isso, e
então é onde sempre sei que está o perigo. Fito o teto e penso em
cigarro. Levanto, volto pro quarto. Procuro e não encontro. Tenho
que sair pra comprar. E então me deito de novo. E o sono vem
novamente.
Acordo
e vejo no relógio que dormi mais de uma hora. Levanto, vou ao
banheiro, embaixo do chuveiro quase não penso em nada. Quase não
penso em ficar por aqui o dia inteiro, depois sair, comprar algumas coisas,
preparar um jantar pra ela quando chegar à noite. Quem sabe garantir
sexo e hospedagem de graça por algumas semanas. Quase não penso
que poderia morar nessa casa pro resto de minha vida enquanto ela vai
trabalhar. Com aquela TV grande pendurada na parede, com aquela
geladeira cheia de comida e bebida. Quase não estou pensando nisso
enquanto me visto e saio do quarto. Caminho até a sala. Abro a porta
e o sol cega meus olhos por um momento que parece uma eternidade.
12/01/2010
00:17 – 00:29
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