EU NÃO TE AMO MAIS, FORTALEZA.


Dia desses estava conversando com a Fernanda Abud, que mora em Salvador, cidade que ainda não conheço. Estávamos conversando sobre a cidade onde Fernanda mora e após eu perguntar o que ela gostava de lá, ela respondeu que quase nada, que na verdade detestava morar ali. Respondi que entendia como ela se sentia. Vivo em Fortaleza dês do dia de meu nascimento. Nasci e fui mal criado aqui, e sempre esta cidade me serviu de muitas maneiras boas. Em muitas ocasiões pensando em como seria sair daqui, me chegava a sensação de que nenhum outro lugar me vestiria como estas ruas. Vivi 27 anos de minha vida gostando de morar em Fortaleza. Mas agora, já não gosto mais.

Talvez seja esse calor que nunca passa, nunca melhora. Essa cidade que não esfria de jeito nenhum. Que nem em dia de chuva fica mais frio, e sim abafado. Você abre a porta de casa e sente aquele tempo parado, sem vento, e sai de casa com a sensação das ruas em estado abafado. Esse sol que nasce todo dia sem dó, queimando tudo, calor maltratando. Talvez seja esse calor humano cearense que não passa nunca.

E essas pessoas. As pessoas fakes dessa cidade. Os intelectuais, os cults, pessoas inteligentes pra todo momento e situação com opiniões sempre bem pensadas de quem passam muito tempo em casa, raciocinando pra conversas futuras em bares, ou postagens em twitters e facebugs. Existe muito ócio, muito tédio nas pessoas dessa cidade. Fortaleza é uma cidade tediosa. Não se tem o que fazer aqui, não se tem aonde ir. O novo bar é o novo lugar do momento para se conhecer e se morar nos fins de semana até a exaustão. Até que o lugar já não seja mais novidade, até que já tenha ido com todos os amigos, paqueras, ficantes, namorados.

São essas pessoas tediosas que essa cidade alimenta. E mais do que entediadas, é muita gente carente. Você cruza diariamente com rostos tristes implorando amor. Você caminha nas ruas e as pessoas parecem bichinhos pedindo amor, você se conecta em redes sociais e as pessoas parecem cachorrinhos pedindo amor e atenção, reclamando de solidão e tédio, tristeza e agonia, se convidando para eventos, qualquer um que seja, não importa, só me tire de casa, do meu tédio, da minha vida, e me leve para passear em algum lugar, qualquer lugar no qual eu nunca mais possa voltar.

São os artistas desvalorizados. São os músicos que estão criando bandas, pensando em discos, shows, que só serão escutados e vistos pelos amigos. E caso a pessoa não tenha muitos amigos nessa cidade, não será visto por muitos mais. Toda arte criada nessa cidade, parece morrer nessa cidade.

São os transportes coletivos demorados e lotados de calor humano que eu nunca quero ter por perto, com motoristas que simplesmente não param quando você acena dando sinal de parada porque estão com medo de assaltos nos coletivos. É essa cidade pintada com desigualdade. Esse país. E pra onde você vai é o medo companhando, de ser assaltado, morto, por causa de um celular, uma carteira vazia.

Vejo gringos andando nas praias de Fortaleza, comendo nos restaurantes carros de Fortaleza, e me pergunto; por qual razão essas pessoas escolheram vir pra esse lugar quente e feio feito o inferno?

É Fortaleza, convivi bem com o teu calor, com as pessoas que vivem em ti por 27 anos de minha vida. Mas hoje, eu só consigo pensar que; Fortaleza, eu não te amo mais, nem te quero mais. E nem tenho ainda outro lugar aonde ir.



Comentários

Anônimo disse…
hoje, 25 de setembro, leio essa coisa triste num dia triste. o noroeste paulista não é muito diferente da capital do Ceará. e ainda você me põe imagens das virgens suicidas, o filme. ô vida, ô azar! e suicídio não é solução: você vai direto pro inferno e espalha mais tristeza por ao redor...
Paula A.
Ismael Angelus disse…
Faço das suas as minhas palavras.

Finis.
Carlos Alberto disse…
Essa sensação claustrofóbica que pode ser, talvez, tenha sentido Cecília, que foi a primeira, e a fez ir embora de sua cidade. E me fez lembrar e colocar a imagem aqui.
Anônimo disse…
Apesar das lindas paisagens, tudo que foi citado no texto faço concordâncias. principalmente sobre as pessoas, pouco falantes parecendo estar sempre de mal humor, nossa fiquei horrorizada com isso. cheguei cheia de expectativas que já no aeroporto, começou a ir por água a baixo... calçadão imenso, lindo, porem muito inseguro. Não quero nem comentar do transporte coletivo... JESUS!!! que tipo de preparação tem essa cidade para os turistas?! de todas os lugares que viajei este foi o único em que me perdi por duas vezes devido a horrível sinalização e as pessoas que nunca sabia informar nada. Neste desabafo afirmo que: só volto a Fortaleza em caso necessário, não por vontade própria.
Carlos Alberto disse…
Anônima, essa é uma cidade estranha realmente. Uma cidade dita para turistas visitarem, mas como você mesma percebeu, não tem preparação alguma. Insegurança nas ruas, transportes coletivos extremamente ruins com profissionais cansados e despreparados, ruas sujas... É uma pena que tenha visto tudo isso. Só volte a Fortaleza se for necessário. Muitos de nós só moramos aqui por necessidade, e não vontade própria.
Anônimo disse…
Infelizmente moro aqui a 6 meses, sou de belo horizonte e estou decepcionado, uma coisa é vc vir pra visitar como turista, é maravilhoso, bem recebido, conhece praias lindas pessoas prontissimas pra te receber, quando vc vem morar vc descobre o tanto de gente falsa, interesseira, violencia, transporte publico ruim, gente ignorante, mas burra.... burra mesmo! Gente feia!
e os empregos??? Péssimos profissionais, pessimos habitos, ou seja desculpa só decepção! A unica coisa boa q eu tive sorte ate hj aqui , ainda em fortaleza é a minha internet que nao cai kkk o resto é ruim, um lixo Desculpe mas é.
Carlos Alberto disse…
Fortaleza é assim. Praticamente tudo aqui é falho. As pessoas, mal humoradas, mal educadas. O policiamento é péssimo e o transporte público é terrível, chega a ser desestimulante de sair de casa pra fazer qualquer coisa. Péssimas opções de trabalho também.
Anônimo disse…
CONCORDO COM TUDO. FORTALEZA É QUENTE, SUJA, O TRANSITO HORRIVEL, AS PESSOAS EXTREMAMENTE IMPACIENTES, MAS EXISTEM PESSOAS LEGAIS E HUMANAS QUE CONHECI. SINTO MUITO TECER ESTAS CRITICAS, MAS A DESIGUALDADE SOCIAL É GRITANTE E SEM CONTAR NA QUANTIDADE DE FAVELAS....FORTALEZA É LADEADA POR DIVERSAS FAVELAS O QUE CAUSA PÂNICO TRANSITAR PELAS RUAS DEVIDO AO GRANDE NUMERO DE ASSALTOS. NÃO É À TOA QUE PELA SEGUNDA VEZ CONSECUTIVA É A CIDADE MAIS VIOLENTA DO PAIS.
Nossa que triste! Eu não conheço Fortaleza, mas gostaria de conhecer...
Acho muito relativo isso de gostar ou não gostar da cidade onde moramos, às vezes o descontentamento está dentro da gente, porque na verdade quando não estamos bem vemos defeito em tudo, esteja onde estivermos. Tem pessoas de bem (e muitas) que moram em "Comunidades" e não saem de lá por nada...
Esse desabafo me fez lembrar da história da "Casa dos mil espelhos"

E lógico, se a gente não gosta de muito sol, temos que evitar essas cidades onde Ele grita mais alto rs

Abraço de Luz à todos e desejo que cada um de nós possamos agradecer cada dia o prato onde comemos.
Morador disse…
Moro em Fortaleza desde que nasci e discordo de duas coisas do texto: insegurança e lotação em ônibus.
A cidade é segurança, mas só não se pode é esperar que as pessoas não sejam vítimas de assaltos quando usam celular por todo canto. Em plena rua, está lá o sujeito mexendo o dedo pra cima e pra baixo pela tela. Assim é pedir pra ser assaltado.
As ruas são tranquilas e não existe tiroteio, com exceção de bairros de periferia, bairros muito pobres.

Ônibus lotados: depende da hora e não sei em que bairro vc fez essa constatação.

De resto, a cidade é mesmo muito quente, sobretudo de uns 7 anos pra cá. A temperatura tem chegado a 36 graus, o que é um absurdo pro padrão fortalezense. As chuvas estão mesmo escassas. Parece que a cada ano chove menos, e uma curiosidade é que aqui não tem inverno, mas quadra chuvosa.

As ruas são bem sujas em razão da mentalidade das pessoas em responsabilizar a prefeitura por tudo o que acontece. Elas não são responsáveis e nem têm noção de que a limpeza deve partir delas próprias, evitando jogar objetos em vias públicas.

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